por Dulcinéa Lopes da Silva
Olá para todos e todas,
Uma vez mais me permito à liberdade de
convidá-los(as) para novas considerações, que não são exatamente novas porque
estão fervilhando nas nossas cabeças, sobre a nossa situação enquanto
empregados(as) da INFRAERO frente a esse processo de privatização e as
consequências por ele geradas, como a falta de respeito para conosco por parte
da empresa na qual trabalhamos, por parte das concessionárias, cada uma em seu
respectivo aeroporto, e por parte do Governo Federal.
Há alguns dias, em visita a Londres por
conta da abertura dos Jogos Olímpicos, a Excelentíssima Presidente da
República, Senhora Dilma Rousseff, em entrevista coletiva mostrava-se
preocupada com o emprego dos trabalhadores da General Motors de São José dos
Campos, cerca de 1500 empregados, que devido o fim da produção de alguns
modelos de automóveis fabricados pela GM na fábrica daquela cidade estavam e
ainda estão sob séria ameaça de demissão.
É interessante observar que na citada
entrevista, a Senhora Dilma Rousseff dizia que os incentivos fiscais que o
Governo Federal oferece são para que a economia se mantenha aquecida, o nível
de emprego se mantenha estabilizado o dinheiro continue girando e outras tantas
questões cujo propósito é impedir que a crise internacional atingisse a
economia do Brasil com a mesma força com que tem atingido a Europa, EUA e
demais países da América Latina.
Considero tudo isso muito importante,
inclusive, acredito que o Governo Federal realmente deva tomar todas as
providências para que os(as) trabalhadores(as) da indústria automotiva não
percam seus empregos, no entanto, há algo que realmente me incomoda nessa
questão, e não só a mim, tenho certeza que a você também.
Eis a questão: Por que o Governo federal
está preocupado com os empregos gerados pelo setor automotivo e não está nem aí
para os(as) empregados(as) federais de INFRAERO? Alguém consegue me responder,
por gentileza? Por qual razão a Senhora Presidente da República está toda
preocupada com os(as) trabalhadores(as) desse setor da economia e nem tomou
conhecimento da nossa situação?
Será que nós aeroportuários(as) somos menos
importantes do que os(as) demais trabalhadores(as) do Brasil?
Será que para o Governo Federal não importa
o que acontece conosco, ou será que ele não está sabendo da situação que nos
atinge?
Esse governo quer mesmo nos convencer que
está alheio ao que está havendo nos aeroportos concedidos, assim como a Senhora
Dilma Rousseff, em entrevista coletiva há alguns dias em Brasília quis
convencer a todos e se eximir da responsabilidade sobre a privatização dos
aeroportos brasileiros afirmando o seu descontentamento com o resultado do
leilão e ao mesmo tempo querendo tirar o corpo fora dizendo: “Não serão mais “concedidos” aeroportos com
esse modelo atual de concessão, VOCÊS ENTREGARAM OS TRÊS MAIORES AEROPORTOS DO
BRASIL PARA UMA GENTE QUE NINGUÉM CONHECE.” Disse isso se dirigindo à
SAC e ANAC, como se alguma coisa em relação a esse processo tivesse acontecido
sem o conhecimento ou consentimento dela.
Vindo da Presidente Dilma, o ceticismo
torna-se necessário, simplesmente não é possível que algo a respeito desse
processo tenha ocorrido sem antes passar por suas mãos. Sua história de vida,
de resistência contra o período mais sombrio vivido por este país, com exceção
do regime de escravidão, a vontade e personalidade inquebrantáveis simplesmente
torna impossível crer em tal queixa.
Por isso caro e cara, é mais do que
necessário que abramos os nossos olhos e não fiquemos esperando a resposta vir
do nada porque ela não virá. Estamos vivendo um período de humilhação, de
vergonha, de enxovalhamento da nossa dignidade, de zero respeito a nós e a
nossos familiares que dependem de nós. Não podemos aceitar isso de maneira
alguma, se não reagirmos agora, enquanto há tempo, a “solução final” proposta
pela INFRAERO para os(as) trabalhadores(as) será cavar uma cova comum, jogar
todos(as) dentro e depois com uma retroescavadeira jogar terra por cima, isso
com todo mundo vivo.
Não podemos esperar para ver, temos
que exigir nossos direitos, estes conquistados por meio do concurso que
fizemos. Pelo nosso trabalho reconhecido internacionalmente, sei que já disse
isso, mas não me canso de repetir, pois nada mais é que a verdade.
Aqui em Viracopos continuamos sem
nenhuma resposta ou proposta da INFRAERO ou da concessionária.
Pois eu digo uma coisa para vocês, enquanto
eles não se manifestarem, não se preocupem, mesmo porque quem realmente tem
motivos para se preocupar são eles e não nós. NÓS SOMOS AS VÍTIMAS NESSE PROCESSO TODO! AS VÍTIMAS! LEMBRE-SE DISSO.
Não aceite, não admita, não se curve ante a
pressão psicológica, assédio moral e todas as artimanhas que alguns chefes,
enquanto defensores da instituição INFRAERO e até da concessionária, estão
exercendo. Caso você se veja envolvido em alguma situação de assédio seja
inteligente, use a cabeça, chame testemunhas, peça para o chefe repetir na
frente de outra pessoa o que disse, ou então que o faça por escrito. O MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO está
aí para isso, imagine o susto que eles não levarão quando começar a chover
denúncias dos empregados na cabeça deles? Eles terão que se mexerem rápido,
muito rápidos para investigar e resolver as questões. Por isso, não tenha medo,
seja inteligente e não se acovarde. Defenda seus direitos, seu emprego e sua
família porque a INFRAERO e concessionária estão pensando no que é melhor para
elas e não para os empregados, essa é a lógica dos poderosos e do capital.
Para se ter uma ideia de como estão
com o desespero batendo à porta, no site do SINA foi publicado que existem 300
vagas para transferência em todos os aeroportos do Brasil, detalhezinho bobo,
não publicaram a quantidade de vagas por aeroporto. Essa também é uma forma de
pressionar as pessoas a se decidirem pela concessionária, afinal, se a pessoa
está acelerada, angustiada, temerosa, logo pensará: mas são apenas 300 vagas,
não terá vaga para mim, terei que ir para a concessionária afinal os(as)
trabalhadores(as) dos três aeroportos privatizados somam quase 2.800
empregados(as), estou descontando os da Navegação Aérea.
NÃO PENSE ASSIM. A SITUAÇÃO QUE ESTAMOS VIVENDO FOI CRIADA PELO GOVERNO
FEDERAL, ENTÃO QUE ELE SE ARDA PARA RESOLVÊ-LA, VOCÊ, EU, NOSSOS COLEGAS
AEROPORTUÁRIOS NÃO TEMOS QUE NOS PREOCUPAR EM RESOLVER A SITUAÇÃO PARA NINGUÉM,
ELES QUE TRATEM DE RESOLVER E SEM PREJUDICAR À PARTE MAIS FRACA, NESSE
CASO O(A) TRABALHADOR(A).
Nossa
consciência coletiva, desenvolvida em uma cultura de dominação e colonização
nos faz acreditar que a corda sempre arrebenta do lado mais fraco, pois eu
tenho uma novidade para todos vocês, nesse caso o lado mais fraco é a INFRAERO
e a concessionária. SE NÓS NOS UNIRMOS E FICARMOS FIRMES NO PROPÓSITO DE
DEFENDERMOS NOSSOS INTERESSES E DIREITOS ELES TERÃO QUE CEDER.
A concessionária não pode tocar o
aeroporto sem os(as) empregados(as) da INFRAERO, esta por sua vez não pode nos
demitir porque o aeroporto foi privatizado, a Presidente da República
Federativa do Brasil está defendendo o emprego de 1500 empregados da General
Motors, irá admitir a demissão de mais ou menos 2.800 empregados públicos
federais? Acho que não. A demissão de um único empregado nessa situação não se
justifica, quanto mais desse montante. E a repercussão disso nos meios de
comunicação? O Governo Federal vai correr o risco do impacto negativo na
economia caso haja o despejo dos empregados INFRAERO na rua por meio de
demissão? Pode estar certo que não.
Outra coisa importante, a concessionária ainda não apresentou nenhuma
proposta de salário e plano de benefícios para os empregados INFRAERO que ela
precisa tanto contratar, será que ela pensa que os possíveis candidatos
aceitarão trabalhar de graça? Será por isso tanta demora em chamar os
“escolhidos” por ela para conversar?
Recebi
um e-mail de uma companheira de Brasília que disse que por lá está acontecendo exatamente
a mesma coisa, a INFRAERO se fazendo de morta, a única diferença é que a
concessionária após cerca 45 dias de assinatura do contrato está iniciou as
entrevistas individuais com os(as) empregados(as). A entrevista gira em torno
das seguintes questões: “você quer trabalhar para a concessionária?” e “Cite
dois benefícios que você considera mais importante.”.
Ou seja, o trabalhador que optar em ir
para a concessionária terá que optar por quais benefícios deseja manter e quais
consideram dispensáveis, é isso mesmo? Como bem disse a companheira de BSB,
benefícios que lutamos anos a fio para conquistar quem tiver o interesse em ir
para a concessionária terá que abrir mão. Eu pergunto você acha certo isso? É
isso que quer para você? CREIO QUE NÃO.
Outra questão, tenho visto alguns colegas
defendendo fervorosamente que a iniciativa privada é ótima para trabalhar, que
existe vida após a INFRAERO, que ninguém tem porque temer a concessionária, no
entanto, ontem mesmo questionando dois desses colegas se iriam para a
concessionária, os dois disseram que não. Sou obrigada a dizer igual ao
mineiro: “Uai sô, que diabo é isso, é bom, é ótimo, é excelente, mas não para
eles, é bom para os outros”? É assim mesmo, pimenta nos olhos dos outros é
refresco?
Gostaria de contar um episódio sobre
Ulisses, rei de Ítaca narrado por Homero em seu livro a Odisseia, mas como já
me prolonguei demais vou apenas dizer, tenham cuidado com o canto das sereias,
ele é ilusório e os marinheiros que confiam nele morrem afogados depois que
seus navios são destruídos nas pedras. Quem ler o livro entenderá muito bem o
que estou falando, mas quem não puder ler, prestem atenção a propostas
reais, no papel, ou no famoso preto no branco, como costumamos dizer.
Não creiam em propostas imaginária ou
ilusoriamente boas, como por exemplo, piso salarial de 2.000 reais. Atenção,
caso o piso fosse esse o oferecido pela concessionária, quais seriam os
benefícios? Temos que pesar muito bem as coisas, porque apesar do nosso piso
não ser muito alto temos benefícios que superam em muito as demais empresas por
aí. Vou dar um exemplo, de que adianta o piso ser 2.000 reais, UM EXEMPLO, se eles achatarem o valor
do tíquete? Se cortarem o plano odontológico? Se mudarem o convênio médico para
um desses que quase nenhum médico ou hospital atende? Quem aceitar mudar para a
concessionária terá que enfiar a mão no bolso para poder ter o padrão que tem
hoje com os benefícios da INFRAERO.
Eles não nos chamam para conversar,
para discutir, para saber dos nossos interesses, MAS NÓS TEMOS O DEVER DE FAZER
ISSO ENTRE NÓS. TEMOS QUE DISCUTIR NOSSAS NECESSIDADES, DISCUTIR O QUE QUEREMOS
O QUE ESPERAMOS.
ENTENDA, NINGUÉM IRÁ DECIDIR O MELHOR PARA
VOCÊ SE VOCÊ MESMO NÃO O FIZER CONCOMITANTEMENTE.
VOCÊ É O MAIOR INTERESSADO NA SUA VIDA E NA
VIDA DE SUA FAMÍLIA. PENSE SOBRE ISSO.
NÃO CREIA EM CONTOS DE FADAS, DE PALCO DE
ILUSÕES.
Não tenha medo, não se apavore, tudo
que precisamos é coragem e consciência. Não se acovarde diante da vida e das
intempéries.
JUNTOS, UNIDOS, NÓS SOMOS MAIS FORTES DO QUE
ELES.
E SÓ PARA ESCLARECER, JÁ QUE ME
PERGUTARAM ESSA SEMANA, EU NÃO VOU PARA A CONCESSIONÁRIA DE JEITO NENHUM, NEM
QUE O PISO SEJA DE 5.000 REAIS. PARA MIM TRATA-SE DE UMA QUESTÃO IDEOLÓGICA.
PODEM TER CERTEZA DISSO. QUEM ME CONHECE DE PERTO SABE DISSO.
“Tudo
o que a vida pede da gente é coragem”
Guimarães
Rosa
Peço a gentileza de repassarem para seus
amigos e amigas, pois o Outlook não permite enviar para toda a lista, por essa
razão só posso enviar para um número reduzido de pessoas, conto com a
colaboração de todos e todas para que esse e-mail circule todos os aeroportos.
O e-mail anterior já foi para na mão do
Marcelo Freixo, candidato a Prefeito pelo PSOL no Rio de Janeiro e também já
foi parar no Congresso Federal, vamos fazer esse e-mail chegar até a Senhora
Dilma Rousseff.
Saudações Resistentes.
Dulcinéa Lopes da Silva
COMITÊ CONTRA A PRIVATIZAÇÃO DA INFRAERO - CCPI