Por Mauro A. Lorenzon
Depois de Viracopos (SP), Guarulhos (SP) e Brasília (DF), nova rodada de
privatização dos aeroportos federais vem aí: Galeão (RJ) e Confins (MG), e
mesmo assim o Governo Federal ainda não apresentou à sociedade, ao
contribuinte, o Plano de Outorgas para o setor de infraestrutura aeroportuária
brasileiro!
Mesmo
privada dos aeroportos mais rentáveis e praticamente sem recursos para aplicar
nos terminais que administra, a Infraero espera investir ao menos R$ 2,8
bilhões neste ano, valor quase 40% superior ao do ano passado. O dinheiro,
assegura Gustavo do Vale, presidente da estatal, virá principalmente do Tesouro
Nacional, que fará nos próximos meses um aporte de R$ 1,7 bilhão na Infraero.
"Mas isso não será suficiente, vamos precisar de outro repasse até o fim
do ano", disse Vale, em entrevista exclusiva ao Estado.
Além do
Tesouro, a estatal que administra os aeroportos brasileiros desde 1972 deve
contar com o dinheiro repassado pelos concessionários privados dos terminais de
Guarulhos (SP), Viracopos (Campinas) e Brasília (DF).
A Infraero
detêm 49% de participação nesses aeroportos, e isso deve render à companhia
cerca de R$ 2,2 bilhões por ano. Como os recursos só começarão a ser
transferidos pelos consórcios ao governo a partir de agosto, Vale estima em R$
1,1 bilhão o volume total referente a este ano.
Para
driblar as dificuldades de caixa da companhia, o presidente da Infraero afirmou
que operações antes pouco relevantes - como restaurantes, lanchonetes e
estacionamentos em aeroportos, por exemplo - vão ganhar mais espaço. "A
Infraero era uma estatal monopolista, então não éramos um poço de eficiência do
ponto de vista comercial, não precisávamos ser. Agora não dá para ser assim. Já
temos projetos de hotéis concedidos em sete aeroportos, os estacionamentos
estão aumentando em diversos terminais. O caminho é este", disse Vale.
Abaixo, os
principais trechos da entrevista ao Estado.
A empresa
começou o governo Dilma com o monopólio na administração de aeroportos, mas vai
terminar sem cinco de seus principais terminais. E aí?
A Infraero
vem sendo estruturada para suportarmos essa perda de receita. Estamos
reformulando todo o nosso fluxo de caixa, porque perdemos toda a nossa
capacidade de investimento, isso é fato. Mas isso já era previsto: vamos usar o
dinheiro do Fnac e também teremos os repasses das concessionárias, o que nos
permitirá fazer ainda mais investimentos do que estávamos fazendo em 2011 e
2012. Isso será importante para o pacote de aviação regional lançado pela
presidente. Vamos investir ao menos R$ 2,8 bilhões neste ano, e parte virá dos
recursos transferidos pelas concessionárias dos aeroportos já leiloados. O Fnac
deve receber R$ 2,2 bilhões por ano das companhias, mas como isso só começará
em agosto, vamos precisar ainda de uma parcela relevante do Tesouro.
Quanto?
Teremos um
aporte de R$ 1,7 bilhão do Tesouro Nacional, mas isso não será suficiente.
Temos menos aeroportos para administrar, mas muito mais responsabilidades.
Precisamos reformar, ampliar e construir 270 aeroportos regionais, e isso
precisa ser feito ao mesmo tempo que aprimoramos a gestão de todos os outros
terminais que continuam conosco. Precisamos encontrar uma saída jurídica para
tornar os aeroportos realmente ativos da empresa, porque efetivamente a
Infraero não têm aeroportos - eles são da União e administrados por nós. Como a
lei diz que todo investimento em imóveis de terceiros é despesa, contabilmente
nós só temos despesas, e quase nenhum ativo. Isso precisa ser solucionado para
melhorar nosso balanço, especialmente com o planejamento de abrir o capital da
Infraero.
Como estão
esses planos?
Vamos
fazer o IPO da Infraero, essa decisão já está tomada no governo. Mas não
conseguiremos preparar a empresa para fazer a oferta de ações na Bolsa antes de
2016 ou 2017. Vamos fechar com a União a administração por 20, 25, 30 anos de
cada aeroporto, de forma a constituir um ativo que possa ser oferecido ao
futuro acionista.
Precisamos
ampliar a visão privada na gestão, porque ela realmente é mais rápida. Um
exemplo: o aeroporto de Guarulhos tinha, há algum tempo, uma proposta de
ampliação do Dufry, que era nosso sonho, projeto perfeito. Mas, para isso, era
preciso abrir licitação, num processo burocrático e demorado. Pois 48 horas
depois do início da gestão privada, a concessionária fechou o projeto com a
Dufry. E eles estão certos.
Mas com a
perda dos aeroportos para o setor privado, a Infraero terá de, necessariamente,
ser mais atenta para esse tipo de serviço, como restaurantes, lanchonetes e
estacionamentos nos aeroportos, não? Exatamente. Nosso grande campo de atuação
a partir de agora será a área comercial dos aeroportos. Vamos entrar, a partir
deste ano, numa fase histórica: a Infraero sempre foi uma empresa monopolista,
e agora não será mais. Como monopólio, não éramos um poço de eficiência do
ponto de vista comercial, simplesmente porque não precisávamos ser.
Antes,
quando precisávamos de receita, bastava reajustar as tarifas aeroportuárias.
Isso não é mais possível, e vamos nos adequar. Queremos mudar, trazer uma visão
comercial para a empresa. Já temos projetos de hotéis concedidos em sete
aeroportos, os estacionamentos em diversos terminais estão aumentando, e vamos
acelerar tudo isso. Vamos também licitar todos os contratos de hangares, cuja
concessão terminar. Já vimos alguns exemplos: há hangares cujo contrato de
aluguel pagavam R$ 11 mil por mês a nós, e quando fizemos nova licitação, o
mesmo concessionário aceitou pagar R$ 210 mil por mês.
Mas isso
não é repassado ao consumidor também?
Não há
muita margem para subir preço, porque a concorrência é cada vez maior, e o
passageiro tem passado cada vez menos tempo transitando pelos terminais, então,
a rigor, não há muita margem para repasse.
"Em abril de 2014 não teremos mais nada para
fazer nos aeroportos visando a Copa"
TV Estadão
| 14.4.2013
Gustavo do
Vale, presidente da estatal aeroportuária, explica como a Infraero se prepara
para grandes eventos como a Jornada Mundial da Juventude e a Copa do Mundo de
2014
Infraero espera investir ao menos R$ 2,8 bilhões
neste ano
TV Estadão
| 14.4.2013
Mesmo
privada dos aeroportos mais rentáveis, estatal aeroportuária vai investir valor
quase 40% superior ao do ano passado, afirma Gustavo do Vale, presidente da
Infraero
IPO da Infraero deve ficar para 2017, diz presidente
Gustavo do
Vale espera que concessões dos aeroportos à iniciativa privada aumente a
atratividade da operação
É preciso esclarecer
que IPO é a oferta pública que se refere as ações, portanto é a primeira oferta de ações de uma empresa, isto é, quando ela
abre seu capital e passa a vender ...
O que
temos até agora é apenas um relatório da subcomissão temporária da aviação
civil aprovado pela Comissão de Infraestrutura - CI.