terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

GOVERNO ENTREGA AEROPORTOS AO CAPITAL ESTRANGEIRO

por Paulo Roberto Krobath















"Deputado Federal Ivan Valente:

Senhor Presidente, senhoras e senhores Deputados,

Nesta segunda-feira, mais um setor público estratégico para o desenvolvimento do país foi entregue ao capital estrangeiro. Contrariando seu discurso de campanha, a presidenta Dilma Rousseff privatizou os três maiores e mais rentáveis aeroportos do país: Cumbica, Viracopos e Brasília, que respondem, juntos por 30% dos passageiros, 57% do volume de cargas e 19% das aeronaves que passam pelos terminais brasileiros. Juntos os três aeroportos também são responsáveis por 70% do faturamento da Infraero, sustentando a rede de aeroportos regionais em operação em todo o país.

A justificativa do governo é a de que não havia caixa no orçamento público para garantir os investimentos nos três aeroportos na velocidade necessária para a Copa de 2014. O que não se diz é que foi o dinheiro público, através do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que financiou a privatização, emprestando aos compradores internacionais para que estes participassem do leilão desta segunda-feira. Oras, se o BNDES estava disposto a fazer empréstimos para financiar investimentos nos aeroportos, por que não fazer isso através da Infraero, uma empresa pública, estatal, que administra 66 aeroportos no país? O papel de um banco como este é ajudar o desenvolvimento do país e a iniciativa privada e estrangeira?

Também não se explica como a Infraero agora subsidiará investimentos nos demais aeroportos do país, a maioria deficitária. Hoje, apenas cerca de 20 aeroportos do país são rentáveis e mantém os demais com repasse de verba, no esquema de subsídios cruzados, diminuindo as desigualdades regionais e sociais do país. Ou seja, até agora, a lucratividade – crescente, vale lembrar – de Cumbica, Viracopos e Brasília era fundamental para manter todo o sistema aéreo em bom funcionamento no país. Como o governo pretende enfrentar agora este déficit?

O Planalto diz que, além do valor arrecadado com o leilão, os consórcios recolherão anualmente uma contribuição ao sistema que varia de 2% a 10% da receita bruta de cada aeroporto. Mas essa arrecadação vai para o Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), que deve destinar recursos a projetos de desenvolvimento e fomento da aviação civil. Sequer o funcionamento do FNAC foi definido; será regulamentado posteriormente por decreto, numa completa falta de transparência sobre a utilização desses recursos. Ou seja, esse dinheiro não vai para a Infraero, senhor Presidente, e os demais aeroportos seguirão sem o aporte que recebiam anteriormente.

Nem com os recursos que a suposta benéfica privatização dos aeroportos gerará ao país o governo parece estar preocupado. Antes da revisão feita pelo Tribunal de Contas da União nos valores mínimos para leilão dos três terminais, o que se apresentava na Minuta do Edital eram módicas quantias de R$ 2,3 bilhões para Cumbica, R$521 milhões para Viracopos e absurdos R$75 milhões para Brasília.

Há ainda um grande risco para os trabalhadores do setor. O Sindicato Nacional dos Aeroportuários (SINA) tentou barrar o pregão na Justiça, afirmando que o edital do leilão descumpria o acordo firmado com a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) durante a última greve, que garantia a estabilidade dos trabalhadores da Infraero nos terminais privatizados. O contrato de concessão diz apenas que “a concessionária deverá desenvolver um plano de transferência operacional a fim de assegurar uma transição eficaz das operações aeroportuárias”. Ou seja, não há qualquer garantia para os trabalhadores, que precisarão recorrer à Justiça – a mesma que manteve o leilão – caso seus direitos trabalhistas não sejam garantidos, o que há grandes chances de ocorrer. As precarizações e demissões são iminentes. Por isso, já estamos requerendo audiência com o Ministério Público do Trabalho da 10ª Região em Brasília.

Nosso mandato participou inclusive de uma audiência do Comitê Contra as Privatizações de Aeroportos com o Procurador Paulo Gomes, do Ministério Público Federal em Campinas. O MPF está estudando os impactos urbanísticos das privatizações e intervenções motivadas pelos grandes eventos e já levantou uma série de problemas em relação ao aspecto ambiental das obras previstas para estes aeroportos. Em Viracopos, por exemplo, das cerca de 70 medidas previstas para amenizar os impactos ambientais, apenas 2 foram cumpridas até agora. O restante virou “exigência” do processo.

Ao contrário do que afirma a grande imprensa – entusiasta histórica das privatizações no país – sequer os passageiros sairão ganhando com a entrega da Cumbica, Viracopos e Brasília às empresas estrangeiras. Está prevista no contrato de concessões a cobrança de taxas de conexão nesses aeroportos, o que não era feito anteriormente pela Infraero. Alguém duvida que essa taxa será imediatamente repassada pelas companhias aéreas para o preço das passagens, ou seja, para o bolso do consumidor, afetando sobretudo as classes menos favorecidas, que recentemente passaram a utilizar o transporte aéreo? Sobre isso, o cidadão brasileiro não foi consultado, apesar de o país ser signatário de documentos da Organização da Aviação Civil Internacional (OACI) que prevêem a consulta aos usuários de aeroportos em caso de aumento ou criação de novas tarifas.

Vale lembrar que a crise aérea que atingiu o país nos últimos anos foi gerada por problemas causados sobretudo por etapas do transporte de passageiros sob responsabilidade, sobretudo, das empresas aéreas, como overbooking e atrasos no check in. A ANAC, que deveria ter agido de imediato, foi omissa, afetando milhares de pessoas. O que não justifica, no entanto, é usar este tipo de problema para privatizar a gestão e operação dos aeroportos.

Há ainda um risco para a qualidade e segurança das operações, já que o transporte aéreo passará a ser orientado pelo lucro dessas empresas. Lucros estes que serão remetidos para o exterior, em vez de ficarem no mercado brasileiro e gerarem emprego e renda para a nossa população.

Por fim, senhoras e senhores Deputados, toda essa entrega do patrimônio público nacional se dá colocando em risco a própria soberania nacional. O artigo 170 da nossa Constituição Federal é muito claro ao tratar da vulnerabilidade de zonas fronteiriças aéreas. Mas o governo Dilma parece ignorar essa questão, ao passar para as mãos de empresas estrangeiras o controle da entrada de bens e pessoas no país, com o agravante da proximidade da Copa do Mundo e das Olimpíadas, quando o fluxo de cargas e passageiros aumentará significativamente no país sem poder de ingerência do Estado brasileiro nesses aeroportos.

Diante de tamanhos problemas, não é possível achar que o país fez um bom negócio ao privatizar seus três principais aeroportos. A aviação nacional está em plena ascensão. Em 2011, os terminais de cargas registraram um aumento de 5,4% em seu volume transportado. Viracopos teve um aumento de 35,9%, e Cumbica, de 28%. Mas o governo Dilma preferiu fechar os olhos e se livrar de um suposto futuro problema, com a chegada da Copa de 14.

Saiu perdendo o país como um todo, que entregou de bandeja mais uma vez seu patrimônio público para estrangeiros, com prejuízos para os trabalhadores e os consumidores, e riscos à soberania nacional.

Muito obrigado.

Ivan Valente
Deputado Federal PSOL/SP"

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